O Encontro de Dois Corações: A História de Fabrício e João Henrique
- Eurivan Coutinho
- 15 de abr.
- 3 min de leitura
Algumas histórias são compostas como uma canção — com pausas, intensidade, harmonia e emoção. Foi assim com Fabrício César e seu filho João Henrique, cujo encontro marcou profundamente duas vidas que estavam destinadas a se cruzar. Um vínculo que nasceu da escuta, do respeito pelo tempo do outro e da convicção de que família é onde o amor se constrói, independentemente da origem.
O desejo de vivenciar a paternidade levou Fabrício, em 2013, ao CRIA. Ali, o primeiro contato com a foto de João Henrique provocou um reconhecimento imediato. Era como olhar para uma parte de si mesmo. O processo, no entanto, não se fez apressado. Requereu paciência, sensibilidade e entrega. João, ainda sob os efeitos do abandono e da insegurança, não queria sair do abrigo. Fabrício soube esperar — e confiar.
Em suas próprias palavras, ele compartilha com emoção essa trajetória:
“A nossa história retrata sem dúvida alguma o encontro de duas almas que precisavam se encontrar para unidos pudessem compor a melodia de nossas vidas. Tudo começou em 2013, quando partindo do desejo de vivenciar a paternidade busquei orientações no CRIA. Ao ver pela primeira vez a foto do meu filho tive a certeza que ali estava um pedaço de mim. Nos conhecemos e essa certeza somente se intensificou. Todavia o João Henrique, talvez marcado pelo fantasma do abandono, não queria sair do abrigo. Foi um teste de paciência e amor, em que respeitando o tempo dele, permiti que o mesmo definisse quando seria essa saída – tudo dentro do momento dele. Foram 04 meses, até que em um sábado ele expressou o desejo de passar um final de semana comigo. Foi o primeiro de muitos finais de semana juntos até a esperada Audiência de Guarda, momento em que ele passou a residir comigo, sendo cuidado de forma mais intensa e abraçado por toda a família – agora ele saberia o que é um lar. Cada vivência era celebrada, os aniversários, as datas festivas, a ida à escola, dentre outros momentos. Mas ainda foram alguns anos até a Audiência final da adoção em 2019, em que ele passou a ter finalmente o meu nome como seu pai na sua certidão de nascimento e ele sendo o meu filho amado – o que já era uma família de fato, passou a ser de direito! Claro que nesse processo vieram muitos desafios, superações, aprendizados, mas os bons frutos foram e permanecem sendo a parte maior de nossa vivência. Recordo-me com especial carinho a primeira vez que ele me chamou de ‘papai’ – foi ainda enquanto morava no Abrigo – essa expressão tinha um especial significado. Eu nunca tive a menor dúvida que ele é o meu filho e a cada novo dia exalto a dádiva da nossa família. Hoje o João já é um belo rapaz, com um coração enorme, companheiro, carinhoso e atencioso. Não me faltam motivos para celebrar o encontro dos nossos corações. Abençoada é a nossa FAMÍLIA!”
Ao longo dos anos, cada etapa foi sendo vivida com profundidade: os primeiros fins de semana juntos, a audiência de guarda, os momentos em família, a convivência diária, a construção de um lar. A tão aguardada audiência final da adoção, em 2019, apenas formalizou o que já estava presente em cada gesto, em cada palavra de carinho, em cada “papai” dito com verdade. João Henrique passou a ter, no papel, aquilo que já carregava no coração: um pai.
No CRIA, histórias como essa nos lembram que adoção não é sobre preencher um espaço vazio, mas sobre reconhecer, acolher e construir com o outro um caminho em comum. Fabrício e João são a prova de que vínculos verdadeiros se edificam com afeto, escuta e presença.
E como bem conclui Fabrício, com a serenidade de quem sabe que sua missão se renova todos os dias: abençoada é a sua família.














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